Desde há milénios (talvez desde há 5000 a.C.) que diferentes povos registavam observações do que viam no céu, pelo que já eram conhecidos fenómenos de repetição no céu: o nascimento e ocaso do Sol, as fases da Lua e a repetição das posições das estrelas ano após ano.
O filósofo grego Aristóteles defendeu a esfericidade da Terra com bases nas observações: a sombra, sempre redonda, da Terra na Lua; a variação de altura da Estrela Polar quando nos deslocamos ao longo de um meridiano; a observação do aparecimento das velas de um barco antes do resto do barco, quando este se aproxima.
O Modelo Geocêntrico, apresentado por Aristóteles, imagina a Terra como o centro de um Universo esférico e imutável.
Este sistema surgia das observações realizadas pelo homem no seu dia-a-dia: a Terra parece imóvel e todos os astros conhecidos (nessa época), Lua, Mercúrio, Vénus, Marte, Júpiter e Saturno e as estrelas fixas, parecem estar em esferas de cristal que giram em seu redor (Figura 1).
Este modelo, com o movimento dos corpos a ser realizados em esferas concêntricas, não explicava um fenómeno observado: a retrogradação dos planetas (Figura 2). A retrogradação dos planetas é uma inversão do movimento aparente de um planeta, sobre o fundo de estrelas (aparentemente) estáticas.
Ptolomeu conseguiu ultrapassar alguns desses problemas com a introdução de epiciclos (Figura 3).
Ptolomeu afirmou que cada planeta se move ao longo de um círculo (epiciclo) cujo centro se movimenta, ao mesmo tempo, sobre um outro círculo maior (deferente). O movimento resultante do planeta é a linha vermelha da Figura 3. A retrogradação acontece quando o observador, no centro ou perto deste, vê o planeta a executar a trajetória na zona a sombreado da Figura 3. Neste sistema de Ptolomeu a Terra não se encontra exatamente no centro do círculo deferente. A Lua e o Sol não necessitavam de epiciclos para explicar os seus movimentos aparentes.
Embora a introdução dos epiciclos conseguisse melhorar a explicação das observações realizadas (não explicava, por exemplo, a não variação de tamanho da Lua, prevista no modelo), este era um sistema muito complexo, com várias dezenas de epiciclos necessários para todo o Sistema Solar conhecido na altura.
A grande aceitação do geocentrismo deve-se à conjugação de vários aspetos:
- Não sentimos a Terra a mover-se;
- No nosso dia-a-dia podemos observar o movimento aparente de muitos astros (o Sol, a Lua, os planetas e as estrelas) pelo que estarmos no centro desses movimentos é o que parece fazer mais sentido;
- O Modelo Geocêntrico era um modelo defendido pela Igreja porque coloca o Homem, o ser perfeito, num lugar de destaque (no centro do Universo, criado por Deus) e tudo gira em torno deste ser perfeito. Contrariar a Igreja era muito pouco comum e perigoso, nessa altura.
Embora já um outro filósofo grego, Aristarco de Samos, tivesse defendido a rotação diária da Terra e da Terra em torno do Sol, o Modelo Geocêntrico foi aceite até ao séc. XVI, altura em que Copérnico defendeu um sistema diferente: o Modelo Heliocêntrico.
Bibliografia
M. Alonso, E. J. Finn, “Física”, Escolar Editora, 2012, Lisboa.
M. Ferreira, G. de Almeida, "Introdução à Astronomia e às Observações Astronómicas", Plátano Edições Técnicas, Lisboa, 1999.
S. Hawking, "A Teoria de Tudo - A Origem e o Destino do Universo", Gradiva, Lisboa, 2010.